Heráldica e Geografia
A heráldica é uma antiga tradição que envolve o estudo e a criação de brasões ou escudos de armas. Esses brasões são símbolos visuais que representam famílias, organizações, municípios e até mesmo países. Eles são compostos por diversos elementos, como cores, formas, animais, plantas e objetos, cada um com um significado específico.
Ao analisar o brasão de um município pela heráldica, é importante observar alguns aspectos-chave:
Cores: As cores utilizadas no brasão são conhecidas como esmaltes heráldicos e têm um simbolismo próprio. Por exemplo, o vermelho pode representar coragem e bravura, o azul pode simbolizar lealdade e serenidade, o verde pode estar associado à esperança e ao crescimento, entre outros significados.
Divisões: O escudo do brasão pode ser dividido em diferentes partes por linhas horizontais, verticais ou diagonais. Essas divisões podem representar diferentes regiões ou territórios que compõem a cidade. Cada uma dessas partes pode conter símbolos específicos relacionados à história, geografia ou cultura local.
Figuras heráldicas: Animais, plantas, objetos e formas geométricas presentes no brasão também possuem significados simbólicos. Por exemplo, um leão pode representar força e nobreza, uma águia pode simbolizar poder e excelência, um carvalho pode estar associado à resistência e longevidade, e assim por diante. Essas figuras podem refletir características marcantes do seu munícipio ou de sua população.
Coroas e elmos: Em alguns brasões, é possível encontrar coroas ou elmos que indicam o estatuto ou a importância do município. Uma coroa pode representar a soberania ou autonomia municipal, enquanto um elmo pode simbolizar a defesa e a proteção.
É importante ressaltar que o estudo da heráldica requer uma compreensão mais profunda e detalhada dos símbolos e elementos específicos utilizados em cada brasão. Por isso, consultar fontes especializadas ou especialistas em heráldica pode ser extremamente útil para interpretar corretamente o significado de um brasão de um município. Ao analisar o brasão heráldico de Garopaba, Santa Catarina, os estudantes de Geografia poderão identificar elementos que representam características geográficas, históricas, culturais e até mesmo econômicas da região, contribuindo para uma compreensão mais ampla e contextualizada do lugar que estão estudando.
O brasão do município de Garopaba, Santa Catarina
Criado no início da década de 70 do século passado, por Wolfgang Ludwig Rau (1916-2009), o brasão foi instituito por meio da Lei Nº 186, DE 01/07/1971 onde há a seguinte descrição:
1º - O Brasão do Município de Garopaba consta de um escudo moderno com coroa mural, de uma alegoria externa e de uma faixa envolvente.
2º - O escudo, por sua vez, é dividido em quatro campos (quartéis): dois laterais simétricos, nas cores verdes e amarelo e um central em forma triangular, na cor rosa claro; e um na parte inferior, em azul celeste.
3º - No campo azul celeste está representado um peixe (garoupa). Simboliza esse peixe a riqueza das águas, sendo o pescado no sentido amplo a maior fonte de renda do Município. Simultaneamente, o peixe simboliza o espírito cristão que entrelaça o povo da Comuna.
4º - O campo rosa claro, central, apresenta no triângulo, uma alegoria com vistas as atividades agrícolas, comerciais e industriais do município. São configuradas, respectivamente, por canas de açúcar e espigas de arroz; pelo símbolo alado de Mercúrio; e por uma engrenagem mecânica.
5º - Os dois campos simétricos laterais apresentam-se concentricamente, alternando as cores nacionais verde e amarelo. Mostram em cada um, uma gaivota branca em voo. Simbolizam a um tempo a índole-patriótica do povo a condição marítima do Município. Lembram as gaivotas, também os deleites amenos oferecidos pelas praias do balneário em desenvolvimento.
6º - Coroando o escudo, uma muralha dourada com seus torrões de sentinelas representa a Comuna unida e vigilante. Uma canoa dourada em frente à muralha faz referência à origem do nome da cidade e do Município de Garopaba, que vem da língua tupi, sendo uma corruptela de "y-gara-paba" que significa o surgidouro ou o pouso de canoas; o porto. Duas estrelas de cinco pontas, dispostas simetricamente sobre a coroa mural, em vermelho, dizem da inteligência e da vontade dos habitantes do Município, de exercerem domínio sobre instintos e elementos.
7º - A faixa envolvente ao pé do escudo, nas cores predominantes da bandeira do Estado de Santa Catarina, traz o nome do Município e a data de sua emancipação.
8º - A alegoria externa - situada no Brasão entre a faixa envolvente e o escudo propriamente dito - faz múltiplas referências a História remota e ao Desenvolvimento da região abrangida pelo Município, cuja sede teve origem pelos idos de 1795 - como Armação para a pesca da baleia.
Um homem carijó, ao lado de um tipití para fabrico da farinha de mandioca, alude aos numerosos antigos habitantes, cuja presença de então em terras de Garopaba está largamente testemunhada pelos sambaquis e restos de oficinas indígenas de pedra e de cerâmica, existentes no litoral do Município.
O escudo português de Pero Lopes do Souza demonstra ter a região de Garopaba pertencido à sua Capitania, ao tempo do Tratado de Tordesilhas.
Faz alusão, também, à notável colonização açoriana havida no litoral catarinense.
A cruz cristã lembra os padres jesuítas das catequeses; o chapéu de aba larga, os desbravadores e colonizadores bandeirantes vicentinos; a âncora de ferro, os navegadores. Um conjunto de armas de guerra recorda a presença em terras de Garopaba, dos "Farrapos" sob ordens do Tenente Coronel Joaquim Teixeira Nunes, na Encantada em 1839, à época da República Juliana Catarinense na Laguna, cujo escudo se distingue ladeando o Brasão envolvido pela chama imorredoura da Liberdade.
A coroa e o barrete frígido, por sua vez, lembram as lutas políticas do século passado, entre monarquistas e republicanos.
Variados petrechos de pesca e de lavoura simbolizam as principais atividades na região, exercidas pela população de Garopaba desde os seus primórdios.
Clique no link para fazer o download do PDF com a gravura original (oriunda de litografia produzida pelo Wolfgang Ludwig Rau). A obtenção dessa imagem foi realizada graças ao acervo disponível no Espaço Museologico “Rau” sediado no Câmpus Ceres da UDESC na cidade de Laguna, SC.
Mais informações:
BERG, T. J. (2015). Geografia e Heráldica: Lendo a representação da paisagem nos brasões de armas dos Estados brasileiros. Geografia Ensino & Pesquisa, 19, 123–133. <https://doi.org/10.5902/2236499419376>
QUOOS, J. H. (2023). Brasão de Garopaba, Santa Catarina. Heráldica e Geografia.figshare, Disponível em: <https://doi.org/10.6084/m9.figshare.22816823.v1>
Obs.: No ano de 2021, na comemoração dos 50 anos do brasão, conversei com a Designer Manoela Vitória Amorim, fundadora da Meive Design e natural de Garopaba, onde produzimos esse vídeo: https://youtu.be/z6yjpEkISWw. No mesmo falamos sobre a inesxistência na época da correta aplicação do brasão conforme a lei no município de Garopaba, SC.
Uma das grandes experiências que se pode obter ao visitar os municípios de Garopaba e Imbituba no inverno é a prática do turismo de observação de baleia por terra. Para realizar o mesmo você pode contratrar um Condutor Ambiental Local, profissional capaz de conduzir com segurança visitantes e turistas em espaços naturais e/ou áreas legalmente protegidas, orientando e interpretando aspectos ambientais e socioculturais dos atrativos (sítios) turísticos existentes localmente.
O vídeo e a foto a seguir foram realizados em uma dessas áreas protegidas, no caso a APA (Área de Proteção Ambiental) da Baleia Franca, em um trecho entre a praia do Ouvidor (Garopaba, SC) e a a praia Vermelha (Imbituba, SC). A data 30 de agosto de 2014, próximo das 11hs.
A baleia franca e seu filhote estavam próximos do costão.
Ao centro a baleia próxima ao costão, enquanto eu realizava a gravação do vídeo.
Foto: Muriel de Oliveira Overbeck Quoos
João Henrique Quoos